15 dezembro, 2005

 

O melhor amigo dos outros homens


Eu acho os animais bonitinhos e morro de pena quando são maltratados. Mas definitivamente não gosto de habitar o mesmo lugar que eles.
Durante todo o tempo que morei com meus pais, nunca tive poder de voto. Tivemos pintassilgos, vários gatos e uns 50 coelhos... Mais difícil que aquentar os bichanos era presenciar a relação de minha mãe com os gatos: “Olha que bonitinho, andando em cima do piano! Desse daí, tchutchuco! Olha, agora ele está em cima dos livros da estante, que espertinho!”
Quando me mudei para fazer faculdade, era uma alegria poder deixar portas e janelas abertas sem risco de encontrar “surpresinhas” em cima da cama. Mas a alegria durou pouco. Fui fazer o Mestrado e tive uma colega de república que era “mãe” de dois gatos. Uma vez eu e o A. presenciamos uma das cenas mais bizarras da minha vida: um dos gatos vomitando. Parecia que ia sair um álien de dentro do bicho! E depois... quem vai limpar? “Eu não” “Nem eu, o gato não é meu!”...
Quando me casei voltei a sentir o prazer de ter uma casa sem cocôs fora do lugar! Mas meu trauma foi fortalecido quando, passando férias em Salvador, fui mordida por um vira-latas e tive que tomar 5 doses de anti-rábica. Depois deste dia eu ficava me escondendo atrás do Z cada vez que via um cachorro.
Chegando aqui na Escócia, descobri que a dona da pensão tem um cachorro! É nojento, ele passeia pela cozinha e lambe e cheira todas as coisas e pessoas! Menos mal que meu quarto fica lá em cima e ele não sobe as escadas!
O pior da história é que eu estou começando a sentir pena da criatura. O pobre fica trancado o dia todo entre a copa e a cozinha e ninguém brinca com ele.
Outro dia ele estava chorando ao lado da entrada do jardim e eu abri a porta, pensando que ele queria fazer xixi lá fora. Mas o cachorro não queria voltar e estava fazendo um frio doido! “Meu Deus, o cachorro vai morrer congelado e eu ainda vou ter que ajudar no enterro”. Comecei a berrar todas as minhas tentativas de pronúncia do nome dele: “Dawl, Awl, Dar, Dor, Dawn, Dowl, Arl, Daw, Dal...come here!”... Ele voltou correndo, babou todo o meu pijama e me deu patadas que deixaram minhas pernas roxas!

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