23 dezembro, 2005

 

Ao vencedor, as batatas e os parsnips

(Imagem: http://www.localharvest.org/parsnips.jsp)


O cérebro humano “geralmente” é muito legal. Tenta se adaptar a situações estranhas e a necessidades diferentes. Os esquimós, por exemplo, têm várias palavras para o que chamamos de “branco”. Os índios conseguem distinguir muitos tons de verde. E os escoceses têm várias subdivisões para o que eu chamo de “batata”: King Edward potatoes, white potatoes, new potatoes, small new potatoes, baby new potatoes, mini new potatoes, Charlotte potatoes, baking potatoes, Vivaldi potatoes, Anya potatoes, Maris Piper potatoes e organic potatoes. Sem contar as batatas doces e as coloridas.

Enquanto eu estava descobrindo o maravilhoso mundo das batatas nas prateleiras do supermercado, uma senhora perguntou onde eu tinha encontrado os “parsnips” que estavam no meu carrinho. Se eu pudesse falar em português, teria explicado que eu nunca tinha ouvido falar em parsnips, mas, como precisava comprar este negócio para cozinhar para o Natal dos brasileiros, fiquei lendo todas as etiquetas até encontrar aquele saquinho, que era o último. E que estava com sérias dúvidas de que aquela coisa parecendo uma cenoura branca pudesse ser gostosa. E teria falado que se ela quisesse muito os tais dos parsnips eu cederia os meus para ela. Esse povo tem um paladar meio estranho. Pode ser que ela adore parsnips assim como eu adoro chocolate, né?

Mas meu cérebro mandou avisar que é legal mas não é dois e que não estava nem um pouco a fim de processar tudo aquilo em inglês instantaneamente para poder conversar com a mulher. Então dei uma resumida e disse que aquele era o último saquinho. E ela foi embora sem os parsnips.

Com fé em Deus o supermercado vai repor os estoques e eu vou parar de olhar com peso na consciência para o meu saco de cenouras brancas.

|

20 dezembro, 2005

 

Be good to yourself


No supermercado daqui, alguns produtos vêm com a etiqueta “be good to yourself”. São geralmente alimentos saudáveis. O preço não é convidativo, mas acho o marketing super bem feito.

É uma campanha necessária, porque os escoceses em geral não são bons com eles mesmos. Fumam muito, bebem demais e comem uma comida incrivelmente gordurosa. A comida mais popular é o “fish and chips”: batatas fritas e peixe frito. Ainda não experimentei, para desespero do Z, que acha inadmissível uma pessoa visitar um país novo e não comer comidas novas.

Mas eu gosto de ser boa comigo. Não fumo, bebo em raríssimas ocasiões e durmo “pelo menos” 8 horas por noite. Bonitinha da mamãe. Mas, como todos os humanos, também tenho minhas fraquezas. Durante um tempo eu tive uma relação nada saudável com uma marca de refrigerante light. Comprava uma garrafa de 2 L por semana para deixar em casa, e, a cada refeição fora de casa, comprava mais uma latinha para acompanhar. Resolvi parar de me maltratar, porque o tal refrigerante tem muito sódio, tem aspartame, que até hoje não se sabe se é cancerígeno ou não, tem cafeína, e, para piorar as coisas, dificulta a absorção do cálcio no organismo. Decidi parar e realmente parei, mas nos primeiros dias, quando via alguém bebendo “a água preta do capitalismo”, tinha vontade de pular em cima da pessoa, agarrar a garrafa, virar na boca e beber até a última gota! Resisti bravamente e me livrei do “vício”. Mas até hoje, quando vou escolher uma bebida, tenho que repetir o mantra: “suco, Lu, você quer suco!”

|

18 dezembro, 2005

 

O sarau



Aqui na Universidade, fico no prédio da Geologia. Meu trabalho não tem relação com a geologia, mas meu orientador tem, então fico aqui. Os alunos de doutorado ficam em uma sala que eles chamam de “attic”.
A Cris, uma brasileira que chegou antes de mim, comentou com os outros colegas do “attic” que no Brasil nós fazemos saraus, para cantar, tocar, recitar poesias. Um dos colegas adorou a idéia e nos convidou para um sarau brasileiro-irlandês-escocês-inglês na casa dele. Como os alunos tiveram um jantar de fim de ano no dia anterior, muitos ainda estavam “curando a ressaca” e não apareceram. Fomos apenas eu e a Cris, empacotadas da cabeça aos pés e uma colega escocesa, a Caroline, de calças jeans, tênis e um moletonzinho. Ela é do norte da Escócia e acha o clima de Edimburgo bem “agradável”!
A “tentativa de sarau” foi uma noite ótima, porque tivemos um show particular do dono da casa, que toca em uma banda de ceilidh, uma festa típica escocesa. Ele também tocou algumas músicas da terra dele, a Irlanda. A Caroline cantou músicas escocesas e a Cris cantou uma música brasileira que eu nunca tinha ouvido, de uma cantora brasileira que eu não conheço. Tudo novidade!
No ônibus de volta para casa, a Caroline estava explicando as letras das músicas em gaélico. Disse que pelo ritmo as músicas parecem alegres, mas na verdade são uma reclamação só: “nossa casa desabou, a plantação de batatas está arruinada, não pára de chover, faz frio demais, não tem nada para comer, ai meu Deus como sofro!” Já sei que na próxima TPM o Z vai dizer que sou descendente desse povo!

|

This page is powered by Blogger. Isn't yours?