18 fevereiro, 2006

 

Rapidinhas




* Outro dia eu estava preparando meu café da manhã quando chegou a dona da pensão e disse algo que eu entendi como “a partir de amanhã vocês terão ervilhas (peas)”. “Ih, coitada, pirou de vez! Ela está querendo servir ervilhas no café da manhã? Será que as ervilhas estão mais baratas que o pão de forma?” Pedi para ela repetir. “Vou viajar e a partir de amanhã vocês terão paz (peace)”. Aaaah! Não tenho nem como fingir que não fico feliz com uma notícia dessas! Em dose dupla, porque vou continuar comendo torradas, mas sem a companhia do cachorro!

* Minha amiga portuguesa veio me convidar para um jantar da Sociedade Brasil-Portugal no “Brazilian Sensation”, um restaurante brasileiro aqui em Edimburgo. Ela me perguntou como é o “xinxim de galinha”, que ela viu no menu. “Não faço a menor idéia”. “Não acredito que você vai comer um prato tipicamente brasileiro pela primeira vez aqui em Edimburgo!” “Nem eu, acho que vou continuar sem comer essa coisa”. Fomos as duas procurar “xinxim de galinha” no google... e não é que o “negócio” parece bom?

* A mesma amiga também perguntou como é que a gente prepara a feijoada. “Está perguntando para a pessoa errada, da feijoada eu só como o feijão preto. Separo todas as carnes no canto do prato”.

* Outro dia contei aqui a história do maiô que comprei. Quando cheguei em casa e fui olhar a etiqueta, estava escrito “idade: 14 anos”. No fim das contas, o vendedor não foi sacana e nem quis insinuar que eu era gorda. Apenas queria indicar o maiô certo para a minha idade ( porque eu tenho cara de novinha mas nem tanto). Alívio! Porque com a idade eu não tenho complexos... Já com o peso....

* Hoje comprei botas especiais para o inverno (pé frio nunca mais)! Fiquei um tempo tentando fazer a conversão dos tamanhos reino-unidenses para os tamanhos brasileiros e cheguei à conclusão de que precisava do número 4,5. O vendedor explicou que só tinha 4 ou 5. “Bom, deixa eu experimentar o 5 então”. “Muito grande”. “O 4?” “Grande”. “O 3?” (o 3 estava na seção infantil). “Ó, serviu! E ainda ficou uma folguinha na frente, dá pra por mais duas meias grossas!”. Será que sou eu que sou pequenininha ou os escoceses é que são enormes? Ou as duas coisas?

* Parênteses dos parênteses: conheci um espanhol que achava engraçadíssimo eu dizer “pequenininha”.

* Um amigo perguntou se eu queria dividir uma torta. “I don’t like sharing”. Minha amiga brasileira: “tem cereja nesta torta?”

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17 fevereiro, 2006

 

"É no silêncio que a beleza coloca os seus ovos"


Falei sobre a conferência na semana passada e faltou falar sobre a cidade da conferência: Straphpeffer. Adorável. Uma mistura de Poços de Caldas com Campos do Jordão, mas sem turistas para atrapalhar. Apenas um ou dois velhinhos andando devagar pela rua. Um friozinho gostoso (usando todas as roupas da minha mala) e algo que a cada dia aprecio mais: o silêncio! Ah, como eu adoro o silêncio! Só me vem à cabeça uma passagem de um texto do Rubem Alves, que eu adoro:

“Há grupos religiosos cuja liturgia consiste de silêncio. Faz alguns anos passei uma semana num mosteiro na Suíça, Grand Champs. Eu e algumas outras pessoas ali estávamos para, juntos, escrever um livro. Era uma antiga fazenda. Velhas construções, não me esqueço da água no chafariz onde as pombas vinham beber. Havia uma disciplina de silêncio, não total, mas de uma fala mínima. O que me deu enorme prazer às refeições. Não tinha a obrigação de manter uma conversa com meus vizinhos de mesa. Podia comer pensando na comida. Também para comer é preciso não ter filosofia. Não ter obrigação de falar é uma felicidade. Mas logo fui informado de que parte da disciplina do mosteiro era participar da liturgia três vezes por dia: às 7 da manhã, ao meio-dia e às 6 da tarde. Estremeci de medo. Mas obedeci. O lugar sagrado era um velho celeiro, todo de madeira, teto muito alto. Escuro. Haviam aberto buracos na madeira, ali colocando vidros de várias cores. Era uma atmosfera de luz mortiça, iluminado por algumas velas sobre o altar, uma mesa simples com um ícone oriental de Cristo. Uns poucos bancos arranjados em “U“ definiam um amplo espaço vazio, no centro, onde quem quisesse podia se assentar numa almofada, sobre um tapete. Cheguei alguns minutos antes da hora marcada. Era um grande silêncio. Muito frio, nuvens escuras cobriam o céu e corriam, levadas por um vento impetuoso que descia dos Alpes. A força do vento era tanta que o velho celeiro torcia e rangia, como se fosse um navio de madeira num mar agitado. O vento batia nas macieiras nuas do pomar e o barulho era como o de ondas que se quebram. Estranhei. Os suíços são sempre pontuais. A liturgia não começava. E ninguém tomava providências. Todos continuavam do mesmo jeito, sem nada fazer. Ninguém que se levantasse para dizer: “Meus irmãos, vamos cantar o hino...“ Cinco minutos, dez, quinze. Só depois de vinte minutos é que eu, estúpido, percebi que tudo já se iniciara vinte minutos antes. As pessoas estavam lá para se alimentar de silêncio. E eu comecei a me alimentar de silêncio também. Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. E música, melodia que não havia e que quando ouvida nos faz chorar. A música acontece no silêncio. É preciso que todos os ruídos cessem. No silêncio, abrem-se as portas de um mundo encantado que mora em nós - como no poema de Mallarmé, A catedral submersa, que Debussy musicou. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Me veio agora a idéia de que, talvez, essa seja a essência da experiência religiosa - quando ficamos mudos, sem fala. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar. Para mim Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto... ”

(O amor que acende a lua, pág. 65)

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Trânsito canhoto


Até ontem, eu pensava que dirigir do lado direito do carro fosse a mesma coisa, com o cuidado de apenas trocar o "mantenha a direita" por "mantenha a esquerda". Mas ontem me dei conta de um detalhe: os reino-unidenses trocam a marcha com a mão esquerda.
Gente, eu bateria o carro na primeira esquina! Meu lado esquerdo é completamente bobo!
E aí comecei a pensar nos canhotos que dirigem no Brasil... algum canhoto por aí para matar minha curiosidade?

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14 fevereiro, 2006

 

Só bobagem!


Uma coisa boa de estar aqui é conversar com os queridos que ficaram:

(com um amigo)
_ Ué, não sabia que whisky tinha a ver com Biologia...
_ Meu filho, pra terminar essa tese, só com muito whisky!

(eu e Z no msn)
_ Z, olha que bonitinho, ali nos emoticons tem o desenho de uma ovelhinha!
_ Ca****, não é que tem mesmo a po*** da ovelhinha?
(se Z está xingando é porque está bem)

(F, um amigo, gritando do lado do Z no telefone)
F: _ Fala pra ela que aqui tá um calor insuportável!
Eu: _ Desgraçado! Não vai ganhar lembrancinha!

(com a minha sogra, i-gual-zi-nha à minha mãe):

_ a ponta do meu dedo está dormente
_ você está com dor na ponta do dente?
_ não, no dedo. Não é dor, está dormente.
_ qual dedo?
_ o indicador
_ das duas mãos?
_ não, só da esquerda
_ está usando luvas?
_ sim, claro
_ de couro?
_ não, de lã, porque são mais baratas
_ então deve ser o frio, minha filha, fique tranqüila!

(eu e Z de novo)
_ Z, estou com lepra no dedo
_ tem alguma ferida?
_ não
_ tem alguma mancha?
_ não
_ p****, Lu! Parece a cavaleira do Apocalipse!

(eu e Z no telefone)
_ Vamos desligar porque preciso fazer xixi
_ Eu também!
_ Vamos fazer xixi juntinhos?
_ Que lindo! Cada um de um lado do Atlântico fazendo xixi sincronizado!

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13 fevereiro, 2006

 

Preconceito ou não?


Dois amigos conversando por aqui:
_ Existe um vídeo infantil em que mostram um grupo de objetos e perguntam qual é o que não pertence ao grupo. Isso estimula o preconceito nas crianças. É um programa preconceituoso.
_ Não necessariamente. Se você tem 3 triângulos e um círculo, o círculo não pertence. E isso não é preconceito. Acho que o preconceito está na sua cabeça.
_ Poxa, talvez você tenha razão...
_ Peraí! Este programa é dos Estados Unidos?
_ É.
_ Ah, então é preconceituoso sim!
_ Isso sim, é preconceito!

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