09 dezembro, 2005

 

Céu azul, soluços no cemitério e declarações de amor


Desde que cheguei aqui, achei a cidade linda, mas só na quarta feira pude ver as cores das casas e dos jardins porque fez um céu azul super bonito, sem uma nuvem. Como este parece ser um acontecimento raro por aqui, vi um monte de gente com máquinas fotográficas profissionais para cima e para baixo, aproveitando o dia de sol.
Fui ao centro da cidade, tentar pela quinta vez abrir uma conta bancária e resolvi passear um pouquinho pela “Old Town”. Encontrei um cemitério, com uma placa na porta dizendo que lá estavam enterrados fulaninho, ciclaninho e beltraninho. Não me interesso em absoluto pelos restos mortais desse povo, mas quis ver o cemitério, que parecia ser bem bonitinho. Estava frio e eu estava com o nariz vermelho e escorrendo. Passeei um pouquinho e tive uma crise de soluços. Com aquele nariz vermelho e soluçando, todo mundo pensou que eu estivesse chorando e começou a fazer aquela cara de pena. Deu uma vontade louca de rir e tive que sair da lá correndo, sem saber se segurava os soluços ou as gargalhadas!
Entrei em um parque e levei meu primeiro escorregão. Acho que até demorou bastante para acontecer, porque o chão fica molhado e eu (ainda) não tenho sapatos apropriados. Sentei em um banco para trocar as pilhas da máquina e encontrei a plaquetinha da foto. Não é a coisa mais linda? Não sei quem foi a mulher, mas fiquei morrendo de inveja da plaquetinha dela!

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08 dezembro, 2005

 

Mais que feliz


Depois de cinco dias aqui, finalmente consegui encontrar meu orientador. Antes disso ele tinha simplesmente sumido. Mandei e-mails, pedi para a secretária da pós-graduação ligar para ele, mas nada do homem aparecer. Eu não esperava que ele me buscasse no aeroporto nem que procurasse lugar para eu morar, mas esperava que no primeiro dia ele me apresentasse para os outros estudantes, me mostrasse onde fica minha sala, verificasse se havia mesa disponível, etc., etc. Como ele não apareceu, tive que me apresentar e resolver tudo sozinha.
Procurei o responsável pelo suporte para configurar a conexão do meu laptop com a internet e as impressoras e conseguir um adaptador, porque as tomadas daqui são completamente diferentes das nossas. Ele me ajudou com a maior boa vontade, sem nem reclamar do laptop todo em português. Fiquei pensando que aqui as coisas funcionam melhor, porque no Brasil o pessoal do suporte demora bastante para atender os usuários.
Mais tarde fui conversar com o meu orientador e falei que já tinha me instalado. Ele perguntou se eu estava feliz com a minha mesa, mas quase consegui ouvir os pensamentos dele: “por favor, responda que sim, eu estou fazendo esta pergunta apenas porque faz parte da minha cultura perguntar sem querer ouvir as respostas verdadeiras”. Acho que a gente também tem um pouco disso no Brasil... Mas por aqui, se alguém diz que você é “more than welcome”, isto não significa necessariamente que você é super bem vindo. E se uma pessoa diz que vai ficar “more than happy to write this document for you”, isto não significa em absoluto que ela esteja adorando escrever o documento para você.
Respondi que tudo bem quanto à mesa e também contei que já tinha resolvido as coisas com o pessoal do suporte. Aí ele fez aquela cara de espanto: “Já? Geralmente eles demoram várias semanas para fazer o que eu peço!” Em seguida fomos conversar com a secretária do departamento e ela fez a mesma cara: “Ta brincando? Jura que eles resolveram seu problema no mesmo dia em que você pediu?” Sim, resolveram. Não sei o que aconteceu e não quero saber. Só sei que estou mais que feliz com o atendimento do suporte!

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07 dezembro, 2005

 

O supermercado

Edingurgh tem 500.000 habitantes, mais ou menos o mesmo que São José dos Campos. Mas enquanto SJC tem 3 shopping centers grandes e mais alguns menores, aqui só existe um shopping center “do tamanho do shopping de Fernandópolis”, como diz a Cristina. Mas o que interessa é que ele fica muito perto da minha casa e tem um supermercado. Como não tenho carro e preciso carregar as compras a pé, tenho ido até lá todos os dias. Já estou fazendo amizade com os caixas! :.)

Faz parte da lista de compras diária uma garrafa de água mineral, porque preciso dela não só para beber, mas também para cozinhar. Assim como em SJC, os produtos da marca do supermercado (incluindo a água) são mais baratos.

Como estou no Reino Unido, fui com a certeza de encontrar “variedade e preço baixo” na prateleira dos chás. Mas foi uma decepção. Os chás não são tão baratos como imaginei e não encontrei chá de morango nem chá mate. Depois de um tempão, escolhi um chá que eu acho que é de hortelã.

Mas no terceiro dia de supermercado, o que eu queria mesmo era comprar um livro. Durante as noites, não tenho grandes opções de lazer e tenho medo de sair de casa. Dizem que por aqui não tem perigo de assalto, mas à noite tem muitos bêbados pela rua e eles podem causar alguma confusão. Parece que existe até uma campanha neste inverno, para que eles não morram congelados se “caírem de bêbados” na rua. Voltando ao livro... Durante o fim de semana, fiquei na dúvida entre minhas duas opções de distração: a televisão e o livro de bioestatística, o único que trouxe (para não fazer peso na mala). Ah, que arrependimento de não ter trazido o Saramago! A televisão consegue ser quase tão entediante quanto o livro de bioestatística. A melhor coisa que consegui encontrar na TV até agora foi uma reprise de “Dr. Givago”. Bom, imagino que seja uma reprise, porque conheço uma pessoa da minha idade que tem este nome por causa do filme!

Encontrei um livro pelo preço de uma caixa de cerejas e achei que o “custo-benefício” valeria a pena. Já tenho programação para as próximas noites :.)

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A primeira festa brasileira


Gastei o fim de semana para comprar cartões telefônicos, fazer compras de supermercado e tentar (sem sucesso) abrir conta no banco daqui. O primeiro item na lista de prioridades era a ida ao supermercado para comprar água mineral. Gente, a água é amarela! Tudo bem que ninguém morreu bebendo esta coisa, mas eu me recuso a beber algo que se parece com xixi! Como dizia um professor do Mestrado, a água tem que ser incolor, inodora e insípida. Se perder alguma destas características, não pode mais ser chamada de água!
Na noite do domingo, fui à minha primeira festa brasileira em Edinburgh. Conheci um paraibano, uma paraibana e uma baiana que são uns amores. Aliás, meu conhecimento prévio dos baianos e paraibanos só me dá boas referências! Coisa mais boa, quando liguei para a paraibana e ouvi aquele sotaquinho! Dancei forró, comi coisas gostosas e aprendi palavras novas em português. Os nordestinos estavam “roendo”. Me explicaram que você fica roendo “quando está que não se agüenta de saudade” de outra(s) pessoa(s)...
Conversei também com alguns alemães e uma grega. Um dos alemães aprendeu a falar “cagada total” (o que fica engraçadíssimo com aquele sotaque alemão) e um outro pediu para ele traduzir para a língua deles. Ele traduziu como “total caca” e me soltou esta: “É como eu digo, português é muito parecido com alemão”. Deu vontade de contar a piadinha dos mineiros fazendo café: “pó pô pó?” “pó pô”. Ou então a história (verídica) da garçonete baiana retirando os copos da mesa e perguntando “rátumá ô rátumô?” (“vai tomar ou já tomou?”). Garanto que não é parecido com o alemão!

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06 dezembro, 2005

 

A chegada

Para manter a tradição brasileira, houve um atraso no meu vôo, e, consequentemente, na minha chegada em Londres. Desci no terminal 3 de Heathrow e tinha que ir para o terminal 1 para pegar o vôo seguinte, para Edimburgo (“Edimbrá”, como eles dizem por aqui). Fui seguindo as plaquinhas de “connection flight” por um corredor compriiiiido toda vida, na maior pressa: “plaplaplapla” (andando com a bota de salto), “fruuuuuu”(na esteira rolante). Plaplapla, fruuuuuuuuu, plaplapla, fruuuuuuuuuu, plaplapla, fruuuuuuuu... e encontrei uma plaquinha indicando T1. Ufa, acho que cheguei! A porta automática se abriu e... do outro lado havia um ônibus para levar ao T1! Pois bem, pequei o bendito ônibus e enfrentei mais um série de plaplaplas fruuuus no T1 para procurar o balcão da StarAirlines qualquer coisa, passar pela imigração e chegar na sala de embarque. Não preciso nem dizer que não deu tempo, né? O avião saiu com uma pontualidade britânica, hahaha! Fiquei esperando o próximo vôo, sem poder comprar nem um copo de água, porque não havia câmbio no local de embarques domésticos. E para ser sincera, eu não estava disposta a sair dali e enfrentar aquele aeroporto enorme, depois de uma noite e um dia viajando. Melhor passar um pouquinho de sede. O engraçado é que, por causa da correria, eu estava morrendo de calor! Todo mundo com casacos e cachecóis e eu, a friorenta, com o casaco na mochila!
Enfim no avião, tinha que pagar (caro) pela comida e bebida. Eles aceitavam cartão de crédito, mas como sou “pão-dura” demais, achei melhor esperar mais um pouquinho. Chegando à pensão, Sheena preparou um drink com vodka e sei lá mais o quê. Tive que tomar por educação, afinal a mulher estava me recebendo cordialmente... Só sei que subi as escadas com tudo rodando...

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O Casamento


Geralmente as pessoas têm muitas dúvidas antes de se casar. Ficam apavoradas e inseguras. No meu caso, foi uma decisão muito tranqüila e amadurecida. Mas depois de dois anos de casada, comecei a ter os mesmos sentimentos que os normais têm ao se casar. Não com relação ao casamento (que vai bem, obrigada), mas com relação à minha viagem para a Escócia. Comecei a me perguntar todas aquelas coisas que costumo ouvir dos que estão prestes a se casar: “Será que vai dar certo?”,”Não vou me arrepender?”, “Minha vida estava tão boa... por que eu fui inventar tudo isto?” “Não seria melhor deixar tudo como estava antes?” “Serei feliz com esta escolha?” “Será que vou perder tudo o que conquistei até agora?”, “Será que as perdas compensarão os ganhos?”, “Será que vou conseguir manter contato com pessoas queridas?”...
Durante um tempo, cheguei a torcer para negarem meu projeto. Daí eu não teria que decidir nada, olha que facinho! Mas foi aprovado. E eu, noiva trêmula e apavorada, disse... “sim” e aqui estou, passando frio em Edimburgo.
Resta agora confiar nas palavras do Z no aeroporto: “Vai ser a melhor experiência da sua vida. Depois de se casar comigo, é claro!”

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De onde veio o koala

Tudo começou em uma manhã de sábado, quando Z. queria sair da cama e eu queria dormir mais um pouquinho. Dissemos a mesma frase: “Mas são 8:00 da manhã!”
Tradução para a língua dele: 8 da manhã = muito tarde. Tradução para a minha língua: 8 da manhã = muito cedo.
Um tempo depois, assistindo a um documentário sobre os Koalas, Z. me diz: “Lu, é você! Um bicho que dorme, dorme, dorme, acorda para comer alguns vegetais sem calorias e volta para dormir mais um pouquinho!”.
É claro que é um exagero, mas antes que ele invente um bicho pior eu fico com este mesmo. Pelo menos o koala é bonitinho...

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