29 abril, 2006

 

Minha copa sabor limão

Esqueci de contar que ontem todos os jornais daqui estavam comentando as declarações de Luiz Felipe Scolari (não sei se estou escrevendo o nome dele certo, preguiça de pesquisar nome de técnico de futebol...). Os britânicos levam o futebol quase tão a sério quanto os brasileiros. Passaram um tempo discutindo essas declarações! E o duro é que começam a frase com "brazilian", palavrinha mágica que atrai minha atenção. E acabo perdendo meu tempo para saber que Scolari não quer ter sua privacidade invadida. E eu com isso, diabos?
Ainda bem que ainda não encontrei na TV alguma versão daqueles programas brasileiros pós-jogo, em que um bando de gente discute se o jogador mandou bem, se deveria ter feito isso ou aquilo, se amarelou ou deixou de amarelar. Fazem desenhos, xingam, gritam! Como se tudo aquilo tivesse alguma importância. É, não tem jeito: para meu desespero, outra copa está chegando!

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Branca, branca, branquinha


Comparo a minha foto no meu primeiro mês aqui e a foto de ontem, quando (incrível) pude usar só uma blusa de mangas curtas. Como estou ficando branca! Pouco antes de viajar pra cá, voltei de uma coleta do trabalho com pernas e braços bronzeados e o resto branco, a coisa mais horrorosa do mundo. Agora já igualou, está tudo branco! Bom, na verdade, um “branco amarelo”. Porque branco tem cor, sabiam? Minha irmã, por exemplo, quando fica “branca”, fica cor-de-rosa. E as escocesas corajosas, que usam mini-saia nesse frio, têm pernas tão brancas que chegam a ser um pouco azuis. Me lembram de quando minha mãe deixava camisas brancas de molho em uma água com um pouquinho de tinta azul, para ficarem com aparência de “brancas”. O azul dava a impressão de branco!

Eu e minha irmã comparávamos a cor das mãos. E, como criança não vale nada, ainda mais quando existe algum grau de parentesco, minha irmã falava que minha mão era amarela porque eu peidava muito. E eu falava que ela era cor-de-rosa porque não comia alimentos amarelos. É verdade, até hoje ela não come cenoura, nem manga, nem mamão. Nada que seja amarelo/laranja. Não sei se por superstição ou por medo de peidar depois!

Essa confusão de cores é sempre engraçada. Uma vez fui ao médico dizendo que queria que ele olhasse umas veias verdes na minha perna. Ele deu uma risadinha e disse que não existem veias verdes, que são vermelhas ou roxas. Aí foi examinar: “não é que são verdes mesmo?”. Conheço minhas veias, oras! Vai ver que acontece o seguinte: as veias são roxas/azuladas, mas minha pele é amarela. Aí, quando misturamos o roxo/azulado com o amarelo, fica verde!

Ah, o olho humano! Mas... onde eu queria chegar mesmo? Ah, sim: que está na hora de voltar para o Brasil e pegar uma corzinha!


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27 abril, 2006

 

Minha próxima programação é essa aqui

É uma festa de despedida do inverno e boas-vindas à primavera (interpretação minha). Depois conto detalhes!

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26 abril, 2006

 

As canetas da chata de galochas


_ Lu, posso pegar sua caneta emprestada um minutinho?
_ Pode, claro.

2 horas depois:
_ Tchau, bom fim de semana, Lu.
_ Hum... escuta, você se importaria de devolver minha caneta? É que eu estou precisando dela, sabe?

Depois de muitas caretas e uma vasculhada nos bolsos e nas pastas, com uma cara de “essa Lu é a pessoa mais chata que eu conheço”:

_ Ah, tá aqui. Você sabia que a gente pode pegar material de escritório lá na secretaria? É só ir lá e pegar. Você pode pegar lápis, borracha, caneta, marcador de textos, o que precisar.

Diálogo mental: então por que VOCÊ não vai lá pegar a caneta da secretária em vez de pegar a minha?

O que me incomoda nestas situações é que, apesar de claramente eu ter razão, sem mais nem menos viro bandida em vez de mocinha. As pessoas ficam ofendidíssimas quando eu peço a caneta de volta. As pessoas, no plural? Sim, isso também acontecia comigo no Brasil. Acontecia com tanta freqüência que eu chequei a colocar meu nome nas canetas, com tinta a prova d’água. E uma vez, mesmo com o meu nome gravado, uma pessoa levou minha caneta embora. E só devolveu porque fui lá buscar. Em vez de ficar sem graça (eu ficaria), ainda fez piadinha: “vi o seu nome e pensei que você devia mesmo gostar muito dessa caneta”.

Sinto-me impotente diante desta força cósmica que move o fluxo das canetas. É muita esquisitice para a minha cabecinha: coisas que deveriam circular, como as moedas, ficam paradas nos bolsos, enquanto pagam o cafezinho com nota de dez. E coisas como as canetas, que, na minha opinião, não deveriam circular, circulam que é uma beleza!

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24 abril, 2006

 

Allotments


No começo do meu estágio aqui, estava passeando pela cidade com outra brasileira, quando vimos um lugar estranho. Eram vários barracões de madeira ao lado de pequenos jardins ou hortas. Em um destes pedaços de terra tinha um homem plantando alguma coisa e de um dos barracões saía uma fumaça, como se alguém estivesse cozinhando lá dentro. Minha amiga sacou a máquina fotográfica: “é uma favela escocesa! Só pode ser! Uma favela! Nem sabia que tinha isso por aqui!”.

Sim, existem “locais com problemas sociais” na Escócia. Mas não, o que vimos não era uma favela. Eram “allotments”. Os britânicos adoram jardins. São apaixonados por jardinagem e são muito bons nisso. Mas muitos moram em apartamentos ou em casas pequenas e não têm a oportunidade de ter seu próprio jardim. Então alugam ou compram pedaços de terra em um terreno, os “allotments”. Cada um dos “allotments” tem um barracão, que geralmente é de madeira, para guardar o material de jardinagem. E provavelmente alguém estava fazendo um chá quando vimos a fumaça saindo do barracão.

Os jardins são tão valorizados que a dona da minha pensão, que está querendo vender a casa, tem um álbum de fotografias com o título “The garden”, para mostrar aos compradores. Quando tem visita ela abre todas as cortinas e janelas com vista para o jardim, para mostrar seu bem precioso. É mesmo bonito. Confesso que nunca pisei ali, porque é onde o cachorro faz cocô. Mas do lado de cá da janela é bonito mesmo.

Mas dá um pouco de tristeza perceber que até os jardins viraram objetos comercializáveis. Não era para ser assim. Isso é uma aberração. É como banana com etiqueta no supermercado, como se tivesse sido fabricada em alguma indústria. É como comprar garrafa de água, às vezes pagando mais caro do que o preço da Coca-cola. Toda casa deveria ter um jardim e um pomar. Deveria fazer parte das regras de construção da prefeitura. Não tem espaço para todo mundo? Bom, aí caímos em uma questão mais complicada, que é o planejamento familiar aliado ao planejamento territorial e urbano. Não quero entrar neste assunto não porque vou gerar muita polêmica. Mas é qualidade de vida ter uma área verde no local onde a gente mora. Não é pedir muito. E não deveria ter um preço. Sou da época em que mulheres trocavam “mudas” de plantas para colocar em seus jardins. E a vizinha que plantava couve no quintal dava o “excedente de produção” para a vizinha do lado, que, em retribuição, dava de presente um pouco das goiabas do seu quintal. Todo mundo era pobre, mas todo mundo tinha sua área verde. Os filhos não tinham videogames nem iPods, mas brincavam pisando na terra, fazendo “comidinha” para as bonecas com pedaços de plantas e flores. Comiam “azedinha”, uma erva qualquer que crescia no jardim. E, quando tinham dor de barriga ou febre, tomavam chá feito com alguma das ervas do jardim.

Às vezes penso que estamos todos caminhando para o lado errado...



P.S. Não fotografei a "favela" naquele dia, porque não sabia o que era. Mais tarde descobri outros "allotments" que ficam aqui bem perto de onde eu moro e têm uma vista linda dos morros (serras/montanhas/pedras/rochas/ colinas?) do Holyrood Park. Aí sim, fiz esta foto para mostrar para vocês.

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