03 março, 2006
A agonia do casaco
Já faz tempo que as minhas orelhinhas (os protetores de orelha) são piada por aqui. Porque nenhum nativo usa, apesar de quase todos admitirem que sentem frio nas orelhas.
Tudo bem, as orelhinhas não são discretas e são mesmo engraçadas. Mas o pessoal têm também uma agonia com os casacos que me tira do sério! Se você entra na casa de alguém, entre o “oi” e o “como vai?” o dono da casa estende a mão e pede o seu casaco. Me deixem chegar, oras! Eu não sinto calor assim de imediato! Pra ser sincera, eu não sinto calor. Na maioria dos lugares que freqüento o pessoal economiza com o aquecimento, e, portanto, fica frio lá dentro também. Outro dia experimentei ficar com o casaco. Disse para a dona da casa que eu estava com frio, que não estava acostumada com o clima daqui, blábláblá... Depois de muito blábláblá ela se convenceu. Mas aí todas as outras pessoas que estavam na casa começaram a se incomodar. A cada dois minutos vinha uma pessoa diferente se oferecer para guardar o casaco. Depois de uns 8, desisti e entreguei o objeto de agonia. Melhor passar um pouquinho de frio a ter alguém me fazendo a mesma pergunta de 2 em 2 minutos! Acho que para eles deve ser quase um crime (ou uma ofensa, vai saber) usar acessórios para o frio dentro de lugares fechados.
Hoje, voltei da natação morrendo de fome e fui direto para a mini-cozinha do prédio (do jeito que cheguei da rua) pegar o meu sanduíche. Notei que um professor estava me olhando demais, devolvi o olhar (olhar de “que é que foi?”) e ele: “você sempre usa luvas para abrir a geladeira?”
02 março, 2006
Todo dia de manhã, flores que a gente regue
Ontem nevou. Hoje tem sol e um céu azul lindo! Pensei 10 vezes antes de vir trabalhar. Vim, mas ainda estou pensando em fugir deste lugar, baby... pra outro lugar ao sul, céu azul, céu azul. Pr'onde haja um tobogã onde a gente escorregue. Alguém quer ir comigo?
01 março, 2006
Um assunto puxa o outro
A universidade está cheia de cartazes para a eleição do próximo líder estudantil (ou qualquer coisa que o valha). Em um dos cartazes, o lema, escrito bem grande, é “BETTER FOOD”. Tenho minhas dúvidas se este rapaz vai conseguir melhorar a comida por aqui! No lugar onde eu faço doutorado no Brasil, consigo pagar por volta de 4 “reais” para sentar à mesa, usar talheres e comer comida quente (incluindo CARNE). E ainda ganho uma paçoquinha de sobremesa. Duvido que o candidato daqui consiga uma façanha destas! Aqui, todos, alunos de graduação e pós graduação, professores (e, desconfio, até o reitor) compram um sanduíche frio por 2 pounds (vamos ser bonzinhos com a conversão: cerca de 8 reais) e comem na frente do computador.
Como o almoço na frente do computador dura 5 minutos, algumas pessoas simplesmente continuam trabalhando, não param. Outras aproveitam o que sobra do horário de almoço para correr, fazer ginástica. Eu tentei fazer parte do segundo grupo e ir à academia, mas meus joelhos me pediram para não ir. Juro que não é preguiça, meus joelhos conversam mesmo comigo e são muito convincentes. Eles querem me ver engordando na frente do computador e se vingam quando eu tento me mexer.
Para conseguir um equilíbrio de forças, hoje levei meus joelhos para verem o que acham da piscina. Parece que gostaram, para minha tristeza. Porque é frio (quero dizer, a água é “aquecida”, mas existe uma diferença enooooorme entre aquecida e quente: aquecida significa que está no estado líquido da matéria), o cabelo fica duro com o cloro e tenho que levar uma mudança para tomar banho lá. Detalhe: o único lugar para tomar banho é um banheirão comunitário na saída da piscina, com várias duchas daquelas em que a gente aperta um botão e elas dão água por uns 2 minutos e depois desligam sozinhas. O povo ia passando, tomando suas duchas e indo embora, e, eu, ia ficando, apertando dezenas de vezes o botão da ducha. Tenho culpa se sou a única que sabe tomar banho direitinho por aqui?
28 fevereiro, 2006
Mais carnaval
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http://babado.ig.com.br/materias/356501-357000/356709/356709_1.html
Acessando este link e depois clicando em “Clique aqui para ver Bono Cantando na Bahia” (mas clique lá e não aqui), dá para ver Ivete (mostrando as pernas, claro) dizendo “olha, meu inglês está qualquer nota, mas vamos nessa”. Aí ela canta um pouco no trio e aparece Bono no camarote: “Helloooooo, Ivete” E ela responde: “Shake your body, Bono... tá certo, Gil, tá certo o que eu estou falando?” Foi perguntar logo pra quem! Gil, com aquele inglês medonho! Hahaha, gente, eu adoro Carnaval pela TV/micro!
Antes que alguém reclame, eu adoro Gil (como cantor/compositor)! Com meu inglês mais medonho que o do Ministro, transcrevi aqui uma parte do que o Bono cantou:
“I remember
Carnival
In the beautiful city of Salvador
Beautiful boys, beautiful girls,
Trying to change the world”
A reflexão sobre jovens mudando o mundo eu deixo para outro texto, porque é filosófica demais para este carnaval.
Para quem leu o texto do link, uma reflexão menos pesada: Bono disse que foi vaiado quando falou da Argentina no show do Brasil e acrescentou : "Agora, vou fazer a mesma coisa na Argentina e vou levar outra vaia." Para ele, a rivalidade entre Brasil e Argentina deve ser algo completamente imbecil. E é!
Estava me lembrando aqui dos goianos tentando estabelecer uma rivalidade com Minas (provavelmente tentando imitar a rivalidade RJ-SP), cantando "Oh, Minas Gerais, quem te conhece prefere Goiás". O que são Minas e Goiás, minha gente? O que são Brasil e Argentina? Na minha opinião, um bando de gente que deveria se unir e não se separar com picuinhas!
O chato é que, uma vez "declarada a guerra", é difícil fugir dela. Quando fui a Foz do Iguaçu, fui conhecer as cataratas do lado do "país irmão" com um motorista argentino, que cobrava em dólar. Ele pegava notas de real, balançava e dizia "isso aqui é m***"! Aí dá vontade de responder com aquela frase do "macaco Simão": "não chores por mim, Argentina, porque amanhã és tu na latrina".
Aqui no Reino Unido, a maioria dos estrangeiros que conheço tem a mesma opinião que eu: se os países "subdesenvolvidos" deixassem de coisa e se unissem, ninguém segurava. O problema é que perdemos muito tempo tentando ser "beautiful boys" e "beautiful girls". E mudar o mundo, que é bom, fica pra mais tarde.
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http://babado.ig.com.br/materias/356501-357000/356709/356709_1.html
Acessando este link e depois clicando em “Clique aqui para ver Bono Cantando na Bahia” (mas clique lá e não aqui), dá para ver Ivete (mostrando as pernas, claro) dizendo “olha, meu inglês está qualquer nota, mas vamos nessa”. Aí ela canta um pouco no trio e aparece Bono no camarote: “Helloooooo, Ivete” E ela responde: “Shake your body, Bono... tá certo, Gil, tá certo o que eu estou falando?” Foi perguntar logo pra quem! Gil, com aquele inglês medonho! Hahaha, gente, eu adoro Carnaval pela TV/micro!
Antes que alguém reclame, eu adoro Gil (como cantor/compositor)! Com meu inglês mais medonho que o do Ministro, transcrevi aqui uma parte do que o Bono cantou:
“I remember
Carnival
In the beautiful city of Salvador
Beautiful boys, beautiful girls,
Trying to change the world”
A reflexão sobre jovens mudando o mundo eu deixo para outro texto, porque é filosófica demais para este carnaval.
Para quem leu o texto do link, uma reflexão menos pesada: Bono disse que foi vaiado quando falou da Argentina no show do Brasil e acrescentou : "Agora, vou fazer a mesma coisa na Argentina e vou levar outra vaia." Para ele, a rivalidade entre Brasil e Argentina deve ser algo completamente imbecil. E é!
Estava me lembrando aqui dos goianos tentando estabelecer uma rivalidade com Minas (provavelmente tentando imitar a rivalidade RJ-SP), cantando "Oh, Minas Gerais, quem te conhece prefere Goiás". O que são Minas e Goiás, minha gente? O que são Brasil e Argentina? Na minha opinião, um bando de gente que deveria se unir e não se separar com picuinhas!
O chato é que, uma vez "declarada a guerra", é difícil fugir dela. Quando fui a Foz do Iguaçu, fui conhecer as cataratas do lado do "país irmão" com um motorista argentino, que cobrava em dólar. Ele pegava notas de real, balançava e dizia "isso aqui é m***"! Aí dá vontade de responder com aquela frase do "macaco Simão": "não chores por mim, Argentina, porque amanhã és tu na latrina".
Aqui no Reino Unido, a maioria dos estrangeiros que conheço tem a mesma opinião que eu: se os países "subdesenvolvidos" deixassem de coisa e se unissem, ninguém segurava. O problema é que perdemos muito tempo tentando ser "beautiful boys" e "beautiful girls". E mudar o mundo, que é bom, fica pra mais tarde.
26 fevereiro, 2006
"Vocês, viu Gil, têm que ajudar a gente a não ser assim. Tem que acabar com esse apartheid escroto"
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Esta frase é do Carlinhos Brown. Para quem quiser ler a reportagem inteira, é só clicar no título.
Como eu disse, eu assisto ao carnaval pela TV. No ano passado, assistindo pela Band, vi o Carlinhos Brown reclamando que os blocos demoravam muito tempo em frente ao camarote da Band (para aparecer na tv, que ninguém é besta) e atrapalhavam os outros blocos que ficavam atrás, esperando. Naquele dia, ele passou em frente ao camarote da Band correndo, correndo mesmo, sem dar trela pra ningúem, porque queria "desentupir" a pista para os próximos blocos. Apenas reclamou para a Astrid, ao vivo e em rede nacional, e, depois, foi-se embora puxando o bloco. Virei fã.
O apartheid a que ele se refere não é nenhum sentido figurado. No "horário nobre do carnaval", só passam os blocos com gente branca e rica. Só no fim da noite, quando os brancos/ricos já se divertiram, vêm os blocos dos negros e pobres. Talvez o baianos que conheço possam falar disto com mais propriedade que eu. Z, Pili, Man, Leo, Dri, Myl, que eu sei que lêem este blog de vez em quando...
E a violência, que tanto o incomodou, é resultado das nossas diferenças sociais gritantes e do nosso sistema educacional inadequado e fracassado. Tem que puxar a orelha do nosso Ministro da cultura sim, mas não só dele.
Não estou falando contra o carnaval (e acho que nem o Carlinhos Brown). Eu adoro carnaval (e tenho certeza de que ele também, mais que eu). Mas temos que reclamar do que está ruim mesmo! Temos que reclamar, temos que apontar, temos que mostrar que está errado! E, o mais importante, não podemos esquecer nunca que o carnaval, na essência, é feito pelos negros e pelos pobres. A arte vem deles. Seja no Rio, em SP, em Salvador.
"E apesar de tanto não
Tanta dor que nos invade
Somos nós a alegria da cidade
E apesar de tanto não
Tanta marginalidade
Somos nós a alegria da cidade"
(do cd Margareth Tete-aTete, da Margareth Menezes, que Z ganhou da irmã e que eu escuto até doerem os ouvidos)
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Esta frase é do Carlinhos Brown. Para quem quiser ler a reportagem inteira, é só clicar no título.
Como eu disse, eu assisto ao carnaval pela TV. No ano passado, assistindo pela Band, vi o Carlinhos Brown reclamando que os blocos demoravam muito tempo em frente ao camarote da Band (para aparecer na tv, que ninguém é besta) e atrapalhavam os outros blocos que ficavam atrás, esperando. Naquele dia, ele passou em frente ao camarote da Band correndo, correndo mesmo, sem dar trela pra ningúem, porque queria "desentupir" a pista para os próximos blocos. Apenas reclamou para a Astrid, ao vivo e em rede nacional, e, depois, foi-se embora puxando o bloco. Virei fã.
O apartheid a que ele se refere não é nenhum sentido figurado. No "horário nobre do carnaval", só passam os blocos com gente branca e rica. Só no fim da noite, quando os brancos/ricos já se divertiram, vêm os blocos dos negros e pobres. Talvez o baianos que conheço possam falar disto com mais propriedade que eu. Z, Pili, Man, Leo, Dri, Myl, que eu sei que lêem este blog de vez em quando...
E a violência, que tanto o incomodou, é resultado das nossas diferenças sociais gritantes e do nosso sistema educacional inadequado e fracassado. Tem que puxar a orelha do nosso Ministro da cultura sim, mas não só dele.
Não estou falando contra o carnaval (e acho que nem o Carlinhos Brown). Eu adoro carnaval (e tenho certeza de que ele também, mais que eu). Mas temos que reclamar do que está ruim mesmo! Temos que reclamar, temos que apontar, temos que mostrar que está errado! E, o mais importante, não podemos esquecer nunca que o carnaval, na essência, é feito pelos negros e pelos pobres. A arte vem deles. Seja no Rio, em SP, em Salvador.
"E apesar de tanto não
Tanta dor que nos invade
Somos nós a alegria da cidade
E apesar de tanto não
Tanta marginalidade
Somos nós a alegria da cidade"
(do cd Margareth Tete-aTete, da Margareth Menezes, que Z ganhou da irmã e que eu escuto até doerem os ouvidos)
É carnaval!
Semana que vem tem carnaval aqui (ninguém em Edimburgo entende de carnaval, então a gente pode fazer quando quiser). Enquanto isso, fico aqui pulando na frente do computador. Não, não fiquem com pena de mim, porque, se eu estivesse no Brasil, estaria pulando na frente da TV. Eu adoooooro carnaval, mas detesto aquele povo me empurrando, pisando no meu pé, passando a mão nas bundas alheias, levantando o sovaco fedido e gritando “oooooolha a Á-GUA”. Não, não dá. Sem falar naquela espuma que jogam no cabelo dos desavisados. E, no caso de seguir um trio elétrico, quando você estiver completamente exausto, vai ter que fazer todo o caminho de volta! É a descrição do inferno! Citando a super-famosa frase do amigo do amigo do Alys, “quero sair de casa para ficar melhor do que eu estou agora; se for para ficar pior eu fico por aqui mesmo”.