30 dezembro, 2005
Torchlight Procession
Há centenas de anos atrás, os vickings vieram para o que hoje é o Reino Unido e não queriam mais voltar. Cada um acendeu uma tocha e, juntos, colocaram fogo no barco que os levaria de volta.
O escoceses mantêm a tradição e até hoje fazem a procissão das tochas, ao som de tambores e gaitas de foles, culminando na queima de um barco no alto do Parque Carlton Hill, com música e show de fogos. Lindo!
Comentário de bastidores: os "tocadores de gaita" estavam vestidos com kilts e fiquei torcendo para algum deles escorregar. Dizem que eles não usam cueca embaixo do kilt... e eu tenho que ver! Interesse antropológico!
Mas não foi dessa vez. Ninguém escorregou. Quem sabe na próxima? ;.)
28 dezembro, 2005
Hogmanay
Com um peso no coração, comprei meu ingresso para o Hogmnay, o ano novo escocês. É muito caro! Tudo aqui é muito caro! Mas é minha única oportunidade, então lá vamos nós. Depois conto como foi. Antes que aconteça como no Natal e eu não tenha tempo de desejar feliz ano novo, compartilho com vocês a
RECEITA DE ANO NOVO
Carlos Drummond de Andrade
"Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre."
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RECEITA DE ANO NOVO
Carlos Drummond de Andrade
"Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre."
Reflexões natalinas
Fizemos o Natal dos brasileiros na noite do dia 24 e um almoço de Natal no dia 25. Éramos uma mineira, um gaúcho, uma paraibana, duas paulistas, vários cariocas e uma venezuelana, que acolhemos de última hora.
Em algum momento da conversa, começamos a falar sobre preconceito. Entre ingleses e escoceses, europeus e brasileiros, paulistas e cariocas, sudeste e nordeste do Brasil, etc, etc. “Food for thought” para mim, por algumas noites.
Minha conclusão _ momentânea (Deus me ajude a nunca ter conclusões definitivas)_ é a seguinte: quanto mais uma pessoa insiste em permanecer no mesmo lugar, mais chances ela tem de ser preconceituosa. Porque só conhece aquela vida. Quem nunca saiu da casa dos pais, nunca experimentou o diferente, nunca sofreu por um dia ou dois os problemas que outros têm durante toda a vida, não tem condições de formar seus próprios CONCEITOS. Fica apenas com o preconceito. Acredita nos estereótipos que lhe foram apresentados e insiste em encaixar as pessoas nos rótulos previamente estabelecidos. Priva-se de toda a beleza e riqueza dos relacionamentos humanos. Triste demais.
Não é o caso de nenhum dos meus amigos aqui, todos unidos porque estão vivendo situações parecidas e se compreendem. Mas é o caso de muita gente que conheço, na família, no trabalho, no meu país e em outros países.
Felizmente tem remédio. Temos novas chances o tempo todo. E como dizem aquelas folhinhas de calendário, não importa o começo se podemos mudar o final. Taí um bom pedido de ano novo.
E eu? “Eu quero dizer agora o oposto do que eu disse antes/ eu prefiro ser essa metamorfose ambulante/ do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”