17 janeiro, 2006

 

Sobre nomes e sobrenomes

Outro dia estava conversando com o casal de donos da pensão sobre nomes e sobrenomes. A dona da pensão, quando solteira, tinha o sobrenome do pai. Quando casou-se pela primeira vez, tirou o sobrenome do pai de adotou o do primeiro marido. E agora tem os dois sobrenomes do marido atual. Teve três filhos e colocou neles apenas o “sobrenome macho”. Contei que não quis mudar meu sobrenome de solteira quando me casei e os dois ficaram super espantados e super curiosos: “mas você não gosta do seu marido?” “Claro que eu gosto, ué, casei com ele!” Expliquei que meu nome do meio é da família da minha mãe e o último é da família do meu pai. “Por que você não tirou o sobrenome da sua mãe, pelo menos, para colocar o do seu marido?” Deu vontade de dizer que é porque eu não sou filha de chocadeira, mas fui mais polida.

Costurando este assunto com outro, há cerca de uma semana li uma reportagem na Revista Fapesp sobre aborto seletivo na Índia. Desde então, isso não sai da minha cabeça. De acordo com a reportagem, há um “desequilíbrio intencional no nascimento de garotos e meninas”. 10 milhões de bebês do sexo feminino deixaram de nascer no país nas últimas duas décadas.


O principal motivo é cultural, porque os homens são mais valorizados dos que as mulheres. "O homem continuará o nome e o sangue da família. Além disso, ficará responsável por tomar conta dos parentes mais idosos quando for necessário". O fato mais intrigante é que essa situação é duas vezes maior em mães alfabetizadas.

Ainda chocada com a rejeição às meninas, acabei de ler que na China há garotas que quebram as próprias pernas para, quando operarem, ganharem alguns centímetros.

Por que é que as mulheres se entregam tão fácil? Por que se rendem por tão pouco (ou mesmo que por muito) à insensatez desse mundo? Por que ajudamos a cultivar a idéia de que não temos valor?

Para terminar este assunto com uma coisa boa, encontrei essa entevista com a Ligia Fagundes Teles, na revista TPM. Copiei aqui dois pedacinhos, mas leiam na íntegra porque vale a pena:

"Mulher é, de fato, mais exibicionista do que homem?
É preciso não pensarmos só nas revistas de débil mental que mostram mulher pelada, peitos, traseiro e tal. Acredito que há uma reação de mulheres escapando dessa servidão ao porre de vaidade. Vejo nas fábricas, nas universidades. Rimbaud uma vez disse: “Já cheguei ao limite da minha linguagem. Agora são as mulheres, quando souberem escrever”. As mulheres desvendam coisas que o homem não atinge, está compreendendo? Estão mais perto de uma cortina que se abre. A mulher consegue entrar no labirinto e sair melhor dele. Acho isso mais interessante do que ficar se exibindo por aí. "

"As mulheres fomentam esse deslumbre em relação à imagem, é triste, é passageiro – porque tem a velhice, a morte... Temos de ir às nossas cavernas, explorá-las enquanto o pensamento está poderoso ainda, e deixar de lado a futilidade. Mulheres morrem nas clínicas de lipoaspiração! Vão ler! Vão estudar! As mulheres são muito mais importantes do que pensam. Perdemos um tempo enorme com essas lojas, essas vitrines. Passo aqui perto de casa, vejo os manequins todos sem cabeça, e percebo que está certo: quem pensa muito em moda não pensa mesmo. Pra que a cabeça?"


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