01 fevereiro, 2006
Generalizações
Quando alguém me diz que não gosta de Biologia porque acha uma besteira ficar decorando nomes de bichos e plantas, respondo que também não gosto da decoreba, mas que a Biologia não se resume a isto. Categorizar é uma maneira de facilitar o entendimento, para então partir para temas mais complexos. Às vezes. Mas às vezes a categorização é traiçoeira. Existem organismos que não se encaixam totalmente neste grupo, nem naquele outro. E se acontece até com as bactérias, com os humanos não é diferente.
Nosso cérebro tem a tendência de separar as pessoas em grupos, para facilitar o trabalho dele. Brancos e negros, bonzinhos e malvados, orientais e ocidentais. Para citar os básicos dos básicos. Mas uma das grandes descobertas da vida adulta é a de que a maioria das pessoas é “mais ou menos”, fica no meio termo. Tem algumas características de um grupo, mas também deste outro grupo aqui e daquele outro grupo ali.
Por que é que estou falando isso? Porque quando a gente está fora do Brasil, a gente ouve generalizações o tempo todo. Dos próprios brasileiros, que sentem-se porta-vozes oficiais do país para dizer que lá a gente gosta disso, não gosta daquilo, ouve tal música, come tal comida. E dos estrangeiros, que tentam fazer um estereótipo a partir do que conhecem.
Vamos imaginar que a dona da minha pensão tente formar sua opinião sobre os brasileiros a partir das informações que ela tem sobre mim. Ela provavelmente vai dizer que os brasileiros odeiam futebol com todas as forças (às vezes até torcem contra para ver se a copa acaba mais rápido), não gostam daquelas carnes nojentas da feijoada, detestam caipirinha, são caladinhos, tímidos e meio desconfiados, não conhecem a Amazônia e nunca foram (e nem querem ir) ao carnaval do Rio de Janeiro. Podemos dizer que é o estereótipo do brasileiro? Não, acho que não. Ao mesmo tempo, sou brasileiríssima, até o dedão do pé. Contradição? Nenhuma. Brasileiros não são uma pessoa só.
Por isso eu acho que aquele adesivo que colam nos vidros dos carros, “a inveja é uma m****”, deveria ser substituído por “a generalização é uma m****”. Ou então “vá generalizar a sua avó”. Porque eu sou especial, única. “Específica”. Como qualquer outra pessoa.