07 março, 2006

 

A menina ainda dança

Quando eu cheguei tudo, tudo
Tudo estava virado
Apenas viro me viro
Mas eu mesma viro os olhinhos
Só entro no jogo porque
Estou mesmo depois
Depois de esgotar
O tempo regulamentar
De um lado o olho desaforo
Que diz o meu nariz arrebitado
E não levo para casa
Mas se você vem perto eu vou lá
Eu vou lá
No canto do cisco
No canto do olho
A menina dança
Dentro da menina
A menina dança
E se você fecha o olho
A menina ainda dança
Dentro da menina
Ainda dança
Até o sol raiar
Até o sol raiar
Até dentro de você nascer
Nascer o que há

(A menina dança, Marisa Monte, composição de Moraes/Galvão)

No início da história humana, tivemos sociedades matriarcais. Haviam “deusas” em vez de “deuses” e as mulheres eram consultadas nas decisões (Regina Navarro Lins, A cama na Varanda). Mas quando eu cheguei a este mundo, tudo estava virado e transformado pela sociedade patriarcal. Como tantas outras mulheres, tenho que que me virar como posso para lidar com tudo o que cobram das mulheres (e com tudo o que nós cobramos de nós mesmas), da ausência de celulites à presença de marido e filhos. Só entro no jogo porque é preciso estar dentro dele para poder mudar as regras. E já passa da hora de reformularmos estas regras. Dá muita tristeza ver mulheres perdendo todas as fichas no jogo da vida, mas a tristeza não pode matar a menina que dança dentro de mim. Ela tem que continuar dançando até o sol raiar.

(esta é uma colaboração para a
blogagem coletiva de 8/março, incentivada pela Denise)





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