05 abril, 2006

 

Gladstone’s land


Eu adoro saber como era a vida de outras pessoas, em outras épocas, em outros lugares. Adoro. Não como em uma aula chata de história, cheia de nomes e datas, mas vendo casas antigas, mapas, gravuras, mobílias. Dá para fazer isto na Gladstone’s land, aqui em Edimburgo. Infelizmente não era permitido tirar fotos lá dentro, mas vou contar as coisas que mais me impressionaram.

Para começar, a cidade era isolada por um muro, para evitar que “gente de fora” entrasse e trouxesse doenças (como se os ratos não cumprissem bem este papel...)

O tal do Gladstone era bem rico e tinha uma casa bem grande do lado de dentro do muro. Ele morava em um dos andares de cima e alugava o térreo para comerciantes. Logo na entrada está o lugar onde existiu uma loja de tecidos e dá para ver um antigo “metro”, um tipo de régua de madeira para que os compradores pudessem conferir a largura e o comprimento do pano que estavam comprando. Parece que havia vários vendedores desonestos pela cidade, então foi criada a seguinte regra: quando um vendedor desonesto era descoberto, colocavam na orelha dele uma espécie de brinco que ele não conseguia tirar sem ficar com um pedaço da orelha cortado. A orelha cortada, portanto, era o sinal para os fregueses ficarem atentos.

Naquela época, vidros e espelhos eram coisas caríssimas, só para os muito ricos. Nem o tal do Galdstone tinha janelas com vidro em todos os cômodos, apenas em alguns. Nas janelas que não tinham vidro eram colocadas cortinas de lã, deixando o interior da casa era escuro e frio. E como frio não é bom e eu não gosto, havia “esquentadores de pés”. Eram umas caixas de metal com carvão quente dentro, para a pessoa colocar os pés em cima, sentada em alguma poltrona.

Pezinhos quentes, passemos então para a cozinha. Um lugar minúsculo, apertado e escuro, onde a criada cozinhava, dormia e cuidava do neném. Sim, tinha um berço e um andador rudimentar (“baby walker”) lá dentro. A comida, em geral peixe e aveia (argh!), era feita em caçarolas colocadas sobre o fogo, na lareira. Alguns pratos, colheres, utensílios de cozinha... e o que mais? Uma privada! Bom, não exatamente uma privada, porque não existia água encanada na casa, muito menos sistema de coleta de esgotos. Era uma espécie de cadeira com um buraco no meio e uma bacia dentro. A “regra” era que no fim do dia as pessoas deveriam ir até o campo esvaziar os piniquinhos. Mas a preguiça e o espírito de porco (frase infame _ ou não...) são coisas globalizadas, desde aquela época. Que esvaziar pinico no campo que nada! Davam uns 4 ou 5 passos e jogavam o cocô pela janela! É sério! O “esporte” tem até nome: “gardy-loo”.

Neste momento, talvez por ser uma pessoa, digamos, “sensível”, comecei a sentir um cheiro ruim ali dentro... ou vai ver que uns 4 ou 5 séculos não foram suficientes para limpar toda a porcança e ainda há resquícios! Vai saber!

Saindo da cozinha, um lugar interessante: quarto do casal e sala de estar, tudo junto. A família Gladstone e os amigos da família entravam por uma escada que ligava a rua diretamente ao “quarto-sala” do andar superior, sem passar pelas lojas do térreo. O teto tem pinturas de flores e frutas e a cama tem uma cortininha em volta. Para que, sinceramente, eu não sei. Para quem faz cocô na cozinha e recebe as visitas no quarto, fechar as cortininhas da cama me parece um contra-senso!

E falando em esquisitices, os moradores da cidade (não só os Gladstone) gostavam muito de porcos, porque tinham várias utilidades. As crianças podiam brincar com eles, eles limpavam as ruas... sim, eles limpavam as ruas! Como? Lembram do “gardy-loo”? O porco, que é porco, comia aquele cocô que o homem, muito mais porco ainda, jogava pela janela. E vocês pensaram que os porquinhos eram amados porque eram “cute”? Ah, inocência! Como se não bastasse submeter o coitadinho do animal a tudo isto, ainda comiam o porco no final da história.





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