05 maio, 2006

 

Conversas de congresso

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Ontem, no fim do dia, estava de bobeira na pensão e meu amigo indiano me chamou para ir ao jantar de um simpósio do qual ele está participando. Adoro estes jantares de congressos, simpósios e similares! Boa comida, boa bebida, e, no caso de ontem, uma vista magnífica do castelo. Para incrementar, contrataram alguns escoceses vestidos com roupas típicas para tocar e dançar. O homem tocou gaita de foles ao vivo (Z, mooooorra de inveja) e as meninas dançaram. Houve também a leitura (sempre dramatizada) do poema de Robert Burns sobre o haggis. Comentei sobre isto há um tempo atrás: o homem tira uma faca de dentro da meia e estraçalha o haggis (comida típica). É sempre interessante ver isto mais uma vez!
Tudo ótimo, até as outras pessoas resolverem conversar comigo e com o indiano. Ah, gente, detesto estas conversas! Eu e o indiano moramos na mesma pensão e temos o mesmo orientador de pesquisa, e, por isso, temos muito assunto (ou reclamações) em comum. Estávamos nos divertindo a valer lá no nosso cantinho, falando mal do resto da humanidade! Bom, mas aí o resto do povo quis conversar. Fazer o quê? Como vêem a aliança na minha mão, o assunto invariavelmente começa assim:


_Você é esposa dele?
_ Nãaaaaaaao! Somos colegas!
_ Ah, então você também estuda aqui em Edimburgo?

E aí começa toda a chateação. Primeiro tenho que explicar que só estudo aqui por 6 meses, o que as pessoas não entendem muito bem. Tenho que explicar que estou no prédio da geologia, mas não sou geóloga. E, depois, é lógico que querem saber o que é que eu estudo. Gente, é tão complicado explicar o que eu estudo! Faço isto há vários anos e até hoje nem eu entendo direito o que eu estou fazendo! Mas os outros sempre acham que vão entender em 5 minutos de conversa. E me enchem de “mas como”, “mas por que”, “mas pra que serve”, “mas qual a finalidade”, “mas e se fizer de outro jeito”, blábláblá. Não tenho paciência. Neste momento, as palavras do Z ecoando na minha cabeça: “ai, Lu, como você é anti-social”. Sou mesmo. Mas nem sempre. Gosto de conversar sobre banalidades, mas não sobre trabalho. Um dos pesquisadores da conversa, por exemplo, mora em Gallway, na Irlanda. Eu adoraria conversar com ele sobre a cultura celta, os conflitos políticos na Irlanda, o clima, a cultura. Qualquer coisa sobre a Irlanda! Mas ele não me deu uma única oportunidade de desviar o assunto!

Há um tempo atrás, participei de um curso e de um jantar de encerramento do curso, com pessoas que trabalham na mesma área que eu, mas que vieram de formações básicas diferentes (geólogos, físicos, engenheiros, ecólogos, etc). Comentávamos sobre como é difícil explicar o que fazemos. O mais engraçado é saber o que as mães explicam sobre o trabalho dos filhos. Sai cada coisa do arco da velha! Cada um disse como é que se desdobra para explicar o seu trabalho para leigos. Até que uma menina contou como acontecem os diálogos dela:

_O que você faz?
_Sou física.
_ Ahhhhh.... (e encerram o assunto).

Gente, morri de inveja da menina! (Pronto, Z, agora sou eu a ter inveja). Meu sonho dourado é que as pessoas encerrassem o assunto assim, logo de primeira. “Ai, Lu, você é anti-social DE-MAIS!”






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