14 junho, 2006

 

E o culto à magreza fica cada vez mais gordo

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Dizem que a televisão dá a impressão de que as pessoas são mais gordas do que de fato são. Ainda assim, vejo e revejo o Ronaldo “fenômeno” na TV e não consigo achar que está gordo. Pode ser que esteja sem fôlego, desmotivado, lerdo, não sei. Estes outros adjetivos a imprensa que especule como quiser. Mas gordo, na minha opinião, não está.

Acho que o Brasil está em uma “piração coletiva” com esses conceitos de gordura e magreza, sabem? Desde que voltei da Escócia, uma das coisas que mais estranhei aqui no Brasil foi ver como todo mundo está magro. Na televisão, então, as mulheres são tão magras que parece que vão quebrar. E as mais famosas são as mulheres que, na minha infância, seriam consideradas feias, porque não têm bunda, não têm peito, não têm um único daqueles pneuzinhos tipicamente femininos. São apenas um esqueleto bem altão. E fazem o maior sucesso.

Como parte da “piração coletiva”, as pessoas começam a achar que quem é gordo _ e basta ter bochechas para ser classificado como gordo_ tem um defeito grave. Olham com pena, às vezes até com nojo. Se são amigos do gordo, acham que têm o dever de avisá-lo e de ajudá-lo a resolver este “problema”. Sem perguntar se o gordo quer, claro.

A gorda aqui, por exemplo, já enfrentou vários diálogos como este nas últimas semanas:

_ Noooossa, você deu uma engordadinha, né?
_ ... (sorriso amarelo)
_ Em? Não engordou?
_ É.
_ Quantos quilos?
_ Não sei.
_Ué, você não “se pesa”?
_ Não.
_ Ah, mas foi um "bocado"! Deve ter sido uns 4 ou 5 quilos, viu? Dá pra ver, olha suas coxas, como estão grossas! Você deve estar usando manequim 42, né? Ou 44, olhando deste ângulo... Depois que você “se pesar” você me conta!

Nestas horas eu fico monossilábica e minto para encurtar o assunto. Mas sei exatamente qual é a minha massa corporal e sei que ela está dentro de todos os limites normais para a minha idade. Sei também que minha dosagem de colesterol está ótima. E meus exames de glicemia não acusam qualquer anormalidade. Minha saúde está perfeita. Todo o meu corpo está funcionando direitinho. Então o resto da humanidade que se exploda com suas perninhas finas, seus bracinhos raquíticos e seus rostos anoréxicos. Quero distância desta mania de achar gordo até quem não está gordo e de pensar que quem não é raquítico é feio. E convido vocês a parar de alimentar esta “piração coletiva” em busca da magreza inalcançável, porque, esta sim, engorda a cada dia.






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